No lugar da ordem, o que aqui se pretende é o seu oposto.

Volume que apresenta ao leitor português a sua obra vasta, Histórias, equações, relâmpagos deve ser lido com um puzzle. Com uma única diferença: no lugar da ordem, o que aqui se pretende é o seu oposto. Colocar tudo em causa, ousar ver além do óbvio, desarrumar mentes, em suma, sempre foram os propósitos maiores deste insólito autor.
Sérgio Almeida, Jornal de Notícias, 7 de Dezembro de 2022.

Histórias, Equações, Relâmpagos é a primeira antologia de textos em prosa de Velimir Khlébnikov editada em Portugal. Com tradução, a partir do inglês, de Sara Veiga.

É também o último volume da Colecção Avesso.




Velimir Khlébnikov





Velimir Khlébnikov está no centro de tudo o que a literatura produziu de mais avançado nos últimos cento e vinte anos. Antes de James Joyce amadurecer a sua extraordinária revolução na linguagem literária, já Khlébnikov publicava textos em que são evidentes os elementos pré-joyceanos. Antes de dadaístas e surrealistas subverterem os valores consagrados em arte e literatura, já Khlébnikov fazia pré-dadaísmo e pré-surrealismo. Profeta de um mundo em que a técnica se alia à arte, sonhou cidades mirabolantes, desenvolveu modelos matemáticos para prever o futuro, escreveu ensaios, manifestos, poemas, contos, peças de teatro, reflexões sobre um universo em que os tempos se misturam e os espaços se interpenetram.

Histórias, Equações, Relâmpagos é a primeira antologia de textos em prosa de Velimir Khlébnikov editada em Portugal.
Com tradução, a partir do inglês, de Sara Veiga. 
Posfácio de Boris Schnaiderman.
Selecção e notas de Rui Manuel Amaral.

"Águas-Fortes Portenhas" no jornal Público

Algumas destas Águas-Fortes" estão ao nível da melhor produção de Roberto Arlt, confirmando o risco, o rasgo, uma toada narrativa próxima da música e que tem a ver com a forma como se apropria da linguagem da rua, da gíria, dos dialectos, para fazer o retrato de preguiçosos, parasitas, pobre-diabos, malandros, namoradinhas entediadas com os namorados, sonhadores, hipócritas, coleccionadores de histórias, gente que se faz de morta, homens honrados, cuscos, vesgos e coxos, solteirões, os que procuram eternamente emprego ou os 'squenuns'.

Excerto do texto de Isabel Lucas sobre Águas-Fortes Portenhas, de Roberto Arlt, na edição de hoje do jornal Público.



Roberto Arlt no Jornal de Notícias

Um texto de Sérgio Almeida, no Jornal de Notícias de hoje, 30 de Setembro de 2020, sobre Águas-fortes Portenhas, de Roberto Arlt, o mais recente volume da Colecção Avesso.

Pouco mais de três mil caracteres bastam para que Roberto Arlt nos trace a essência destes extravagantes seres que, juntos, formavam um autêntico 'empório infernal'. Homens e mulheres de méritos incertos e falhas mais do que evidentes, para quem os pequenos ardis do quotidiano a que recorrem não são tanto uma tentativa de sobrevivência como uma razão para se manterem vivos.





Roberto Arlt no jornal i

João Oliveira Duarte escreve sobre Águas-fortes portenhas, de Roberto Arlt, na edição de domingo, 20 de Setembro, do jornal i. 

Talvez uma das características mais interessantes deste conjunto de pequenos textos de Roberto Arlt seja o grau de concentração de energia que cada uma destas figuras tem. De facto, todas elas são delineadas em breves traços, como se fossem pequenas notas – notas é o termo que Arlt preferia para estes pequenos textos – que tirava enquanto vagueava pelas ruas, como se fosse registando com o maior rigor possível as figuras excêntricas com que se deparava. Mas essa brevidade, as poucas linhas que usa para as desenhar, é talvez o que há de mais difícil de se fazer: não construir uma personagem, mas delinear, em breves traços, uma figura, que tem tanto de singular como de anónimo, que concentra em si um traço inaudito, nunca visto. Como refere Rui Manuel Amaral no posfácio: “Arlt observa, escuta, sente e escreve. Tudo começa e acaba na rua”. Não se trata, no entanto, de tornar literário as casas de má fama, toda a colecção de seres desocupados que vão comparecendo em Águas-Fortes Portenhas, sobrecarregando-os de efeitos, conferindo-lhes uma patine que lhes é estranha; pelo contrário, o objectivo declarado é trazer para o seio da literatura toda a diferença – de linguagem, de tonalidades, de seres – que Arlt vai encontrando, toda a inventividade dos dialectos que se movem nas margens, toda a maldade inscrita nas palavras e nos corpos: “arrancar palavras de todos os ângulos” contra os “senhores de colarinho bem passado, voz grossa, que esgrimem a gramática como uma lança e a erudição como um escudo contra as belezas que adornam a terra”. 

Texto completo aqui.


«Águas-fortes portenhas» em destaque no semanário «Expresso»

Escritor que desconfiava da literatura, que não queria agradar a todo o custo, Roberto Arlt pode ser definido como um cínico lírico, embora nunca muito cínico nem muito lírico. As crónicas, como as ficções, gostam de contar histórias a partir de outras histórias, mas comprometem-se com uma honestidade avessa a mistificações. 


Pedro Mexia escreve sobre Águas-fortes portenhas, de Roberto Arlt, na edição deste sábado, 19 de Setembro, do semanário Expresso (classificação: 5 estrelas).




Manuel Resende (1948-2020)

Manuel Resende, o excepcional tradutor e organizador do volume inaugural da Colecção Avesso ("Notícias em três linhas", de Félix Fénéon), deixou-nos no dia 29 de Janeiro de 2020, depois de uma vida dedicada aos amigos e aos livros.
"Notícias em três linhas", de Félix Fénéon, foi livro do ano para os críticos do jornal Público, em 2014. A melhor maneira de celebrar a vida de Manuel Resende é continuar a ler os seus livros.


Manuel Resende durante a apresentação de "Notícias em três linhas", na livraria Ler Devagar, em Lisboa, em Novembro de 2014.

Obrigatório

O Tutu, o mais recente volume da Colecção Avesso, é uma das sugestões da secção “Obrigatório”, do semanário Expresso desta semana (5/10/2019).


Apresentação de "Monólogos", de Charles Cros, no Porto



A apresentação de Monólogos, de Charles Cros, o sexto volume da Colecção Avesso, teve lugar no Mira Forum, no Porto, no dia 27 de Outubro de 2018. Com leituras de Alexandre Sá e Regina Guimarães, e a projecção de "Autrefois", filme de adolescência de Saguenail (1969), inspirado no monólogo homónimo de Charles Cros.

Chegou o sexto volume da Avesso

A Colecção Avesso orgulha-se de apresentar a primeira versão em língua portuguesa dos Monólogos, de Charles Cros. Numa magnífica tradução de Regina Guimarães e com prefácio de Saguenail. Já disponível para encomenda no sítio da editora Exclamação e nas melhores livrarias.

Cientista, inventor genial, poeta, mistificador, humorista, galhofeiro, participante em todos os clubes de insubmissos da boémia parisiense da terceira república – os «zutistes», os «hirsutos», os «sujeitos reles», os «hidropatas» –, Charles Cros (1842-1888) cultivou o monólogo como modo de subsistência. Precursor da «stand up comedy», o monólogo tal como Cros o concebeu e lançou, conheceu uma voga efémera – até à primeira guerra mundial – que o submergiu de imitações. No final do século XIX, todos os «homens de letras», dos jornalistas aos académicos, cometeram monólogos. Mas nenhum alcançou a graça e a fantasia criativa de Charles Cros.

Curiosidades em Macau

E temos narrativas de cunho simbolista, de cunho fantástico, de recorte realista, fábulas e até anedotas de amplexo mitológico. É isso que o torna uma fonte de surpresas e profusamente actual – isso e um humor subterrâneo que de vez em quando aflora.

António Cabrita, num texto dedicado a Curiosidades Literárias e Outros Contos, de Rubén Darío, o quinto volume da Colecção Avesso, no jornal Macau Hoje. O texto completo está disponível aqui.
 

O esbatimento de fronteiras entre a prosa e o verso é a grande inovação da narrativa breve de Darío

Segundo os críticos mais severos, um dos principais defeitos da prosa dariana é o facto de ser excessivamente lírica, isto é, nos seus contos e conatos de romance, a linguagem adquire mais importância do que a ficção narrativa, o que resta tensão ao relato, ou seja, o que querem dizer é que há pouca acção nos seus contos.
Claro que o excesso de lirismo não é um traço idiossincrático apenas dos seus contos, mas da sua prosa no geral. Aliás, os editores do conhecido diário bonaerense «La Nación» (do qual Darío foi colaborador desde 1889 até ao ano da sua morte), estiveram prestes a despedi-lo em várias ocasiões, fartos das copiosas referências artísticas, literárias e culturais que inseria nas suas crónicas, que, como género jornalístico, deviam ser objectivas e fáceis de entender.   
Mas, de outra perspectiva, de acordo com a crítica mais recente, este esbatimento consciente de fronteiras entre a prosa e o verso é precisamente a grande inovação da narrativa breve de Darío, uma interpretação com a que concordo plenamente porque, da mesma forma que grande parte da sua prosa é, efectivamente, lírica, muitos dos seus poemas mais conhecidos, como «Sonatina» ou «A Margarita Debayle», são autênticos contos em verso.

Mirta Fernández, na apresentação de Curiosidades Literárias e Outros Contos, de Rubén Darío, no Porto, 5 de Maio de 2018. Texto completo aqui.

Leveza, humor, surpresa e formosura

[Este livro], além do gozo que dá, tem o mérito de mostrar a versatilidade, aperfeiçoamento e mestria da ficção em prosa de Darío. Desde “Os Meus Primeiros Versos” (1886) até “Curiosidades Literárias” (publicado na sua revista parisiense, Mundial Magazine, em Julho de 1913), segue-se a trajectória clara de um contista e prosador que desde cedo soube manipular a linguagem com leveza, humor, surpresa e formosura, sem nunca parar de procurar novos desafios para a técnica. Deve-se esperar destes 24 contos o inesperado, o fantástico, o trágico, às vezes, o cómico o mais das vezes, sempre o Belo com B maiúsculo e musculado.

Luís Miguel Rosa, num longo e suculento artigo, a propósito de Curiosidades Literárias e Outros Contos, de Rubén Darío, disponível aqui.

Cuidadíssima antologia

Com um leque de textos que cobre toda a carreira do escritor (dos 19 anos até às vésperas da morte), esta cuidadíssima antologia mostra-nos a espantosa diversidade de registos, temáticas e fontes de inspiração da prosa de Darío. O vasto espectro vai da ironia mais fina à vinheta trágica, da parábola sarcástica ao delírio lírico. Denominador comum: a inventividade dos relatos e uma espécie de dom féerico para captar atmosferas, com o mínimo de palavras e o máximo de efeito expressivo.

José Mário Silva, no semanário Expresso, de 28 de Abril de 2018.
(Texto online só para assinantes.)



Este a quem Borges chamou um dia "o Libertador"

Se é certo que Darío é menos cotado como prosador que como poeta, estes contos, numa edição que orgulharia a obsessão gráfica que ele tanto cuidou, em versões onde uma certa literalidade é bem doseada a favor de um efeito de estranhamento fiel à sua poética, encontramos a mesma desfaçatez verbal, a mesma insolência formal, a mesma frescura de um poeta com experiência de repórter, de ritmos e cores contagiantes. Em ficções que tematizam a relação conflituosa entre arte e sociedade, fazem a crítica do materialismo capitalista, servem de palimpsesto exuberante de matérias ou literárias, se lançam no género fantástico ou na crónica humorística, celebrando sempre o descaramento imaginativo e formal, encontramos aqui pretextos suficientes para nos deixarmos surpreender por este a quem Borges chamou um dia "o Libertador" e do qual disse ter renovado tudo, temas, vocabulário, ritmos, "a magia peculiar de certas palavras".

Miguel Filipe Mochila, a propósito de Curiosidades Literárias e Outros Contos, de Rubén Darío, no jornal i, de 26 de Abril de 2018. Texto completo aqui.