Roberto Arlt no jornal i

João Oliveira Duarte escreve sobre Águas-fortes portenhas, de Roberto Arlt, na edição de domingo, 20 de Setembro, do jornal i. 

Talvez uma das características mais interessantes deste conjunto de pequenos textos de Roberto Arlt seja o grau de concentração de energia que cada uma destas figuras tem. De facto, todas elas são delineadas em breves traços, como se fossem pequenas notas – notas é o termo que Arlt preferia para estes pequenos textos – que tirava enquanto vagueava pelas ruas, como se fosse registando com o maior rigor possível as figuras excêntricas com que se deparava. Mas essa brevidade, as poucas linhas que usa para as desenhar, é talvez o que há de mais difícil de se fazer: não construir uma personagem, mas delinear, em breves traços, uma figura, que tem tanto de singular como de anónimo, que concentra em si um traço inaudito, nunca visto. Como refere Rui Manuel Amaral no posfácio: “Arlt observa, escuta, sente e escreve. Tudo começa e acaba na rua”. Não se trata, no entanto, de tornar literário as casas de má fama, toda a colecção de seres desocupados que vão comparecendo em Águas-Fortes Portenhas, sobrecarregando-os de efeitos, conferindo-lhes uma patine que lhes é estranha; pelo contrário, o objectivo declarado é trazer para o seio da literatura toda a diferença – de linguagem, de tonalidades, de seres – que Arlt vai encontrando, toda a inventividade dos dialectos que se movem nas margens, toda a maldade inscrita nas palavras e nos corpos: “arrancar palavras de todos os ângulos” contra os “senhores de colarinho bem passado, voz grossa, que esgrimem a gramática como uma lança e a erudição como um escudo contra as belezas que adornam a terra”. 

Texto completo aqui.


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