Cuidadíssima antologia

Com um leque de textos que cobre toda a carreira do escritor (dos 19 anos até às vésperas da morte), esta cuidadíssima antologia mostra-nos a espantosa diversidade de registos, temáticas e fontes de inspiração da prosa de Darío. O vasto espectro vai da ironia mais fina à vinheta trágica, da parábola sarcástica ao delírio lírico. Denominador comum: a inventividade dos relatos e uma espécie de dom féerico para captar atmosferas, com o mínimo de palavras e o máximo de efeito expressivo.

José Mário Silva, no semanário Expresso, de 28 de Abril de 2018.
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Este a quem Borges chamou um dia "o Libertador"

Se é certo que Darío é menos cotado como prosador que como poeta, estes contos, numa edição que orgulharia a obsessão gráfica que ele tanto cuidou, em versões onde uma certa literalidade é bem doseada a favor de um efeito de estranhamento fiel à sua poética, encontramos a mesma desfaçatez verbal, a mesma insolência formal, a mesma frescura de um poeta com experiência de repórter, de ritmos e cores contagiantes. Em ficções que tematizam a relação conflituosa entre arte e sociedade, fazem a crítica do materialismo capitalista, servem de palimpsesto exuberante de matérias ou literárias, se lançam no género fantástico ou na crónica humorística, celebrando sempre o descaramento imaginativo e formal, encontramos aqui pretextos suficientes para nos deixarmos surpreender por este a quem Borges chamou um dia "o Libertador" e do qual disse ter renovado tudo, temas, vocabulário, ritmos, "a magia peculiar de certas palavras".

Miguel Filipe Mochila, a propósito de Curiosidades Literárias e Outros Contos, de Rubén Darío, no jornal i, de 26 de Abril de 2018. Texto completo aqui.